19.1.10

Terremotos

Haiti me fez pensar que passei perto de um terremoto uma vez. Ou ele passou perto de mim. E eu estava isolado do mundo, na India, e quando soube de tudo mandei um email dando sinais de vida ao meu povo. Abaixo a mensagem eletrônica.

Allahabad, 28 de Janeiro de 2001.

... e eu e o teremoto
... e eu na india e o terremoto na india
e a india em mim e terremoto em mim
terremoto? mas quais terromotos?
e...

recebi e mails queridos de pessoas todas maravilhosas e preocupadas e a india chacoalhada.
voces vendo nos jornais
de papel
de radio
de televisao com muitas imagens chocantes
deve ter uma cobertura catastrofe sendo feita pela cnn
e vcs veem a tragedia.

eu em allahabad no kumbh mella.
kumbh mella. kumbh mella. kumbh mellla.
eu nao sabia, eu nao sabia, eu nao sabia e vim
naquela noite lah de sexta feira, quando aqui eh noite e aih eh dia.
e li na internet.

e fiquei completamente chocado, paralisado. e nao entendi mais nada e perdi o sentido das coisas e desacreditei nos deuses que passara o dia acreditando e sendo nutrido pelas milhares e milhares de milhoes de pessoas que chegavam e partiam e vinham se banhar nos encontros dos rios sagrados. ganga. yasmina. saraswati.

e li as noticias nos jornais. e nao entendia o que estava acontecendo. e foi foda. o paradoxo absoluto. daquele meu dia.

eu me perdi e sai daqui chorando e nao sabia o que fazer e decidi ir lah, pra gujarat e ajudar, e nao sabia o que fazer e que direito eu tinha de ficar aqui na minha festa exotica e aquela gente morrendo lah? eu vim para cah para o ultimo banho dos naga sadhus neste kumbh mella, o mais importante dos ultimos 144 anos e o primeiro do novo milenio.

mas li e li que a situacao tava power punk nada e nao tem nada lah e infra zero e ateh um caminhao dos bombeiros abandonou a cidade por falta de infra e pensei em nao ir e decidi nao ir completamente qdo liguei para o escritorio de turismo de gujarat perguntando sobre trabalho voluntario e os caras me deram milhoes de voltas pelo telefone e nao tem infra aqui.

fiquei em allahabad, onde meu dia foi novamente preenchido pelo kumbh mella, pelos velhos, pelas velhas, o aleijado que voltava cruzando a minha rua, os homens as mulheres as criancas os bebes os meninos e as meninas. e hoje na madruga, trupicando em gente, parei na beira do sangham e esperei os naga sadhus que vieram todos e pelados e com cinzas espalhadas pelo corpo e segurando tridentes ou espadas ou montados em cavalos, se dirigiram ao rio.

e depois dos nagha sadhus eu tomei o meu primeiro banho no sangham.

vcs tem visto mais o teremoto que eu. nao tenho tv, meu som soh toca fitas k7 e donde estou nao chega jornal de papel.

conecto-me com as pessoas do terremoto quando penso nelas na beira do rio, perfumado pelo incenso do puja ao lado e iluminado pelas velas que vao e vao flutuando.

amigos, estou bem. kiss.
D.

Um comentário:

Fernanda R. Lima disse...

Que bacana esse texto Dan! E que experiência incrível deve ter sido essa viagem. E o kumbha mela então nem se fale... Adorei! Bjs,Fe