9.2.08

Rondônia Medonha

Desmatamentos e queimadas generalizadas no interior da Reserva Extrativista Rio Jaci-Paraná.
Foto: Kanindé – Associação de Defesa Ethnoambiental, 2007.

Fui a Rondônia pela primeira vez no início de 2007 para fazer conversas com algumas comunidades, capitaneado pelo pessoal da WWF-Brasil. Fiquei muito impressionado com a situação. Requento um diário de bordo que trouxe na bagagem:

[13.03.07] Rondônia, medonha. Apelido carinhoso de quem por lá batalha. Porto Velho impressiona, a cidade cresce com o dinheiro da madeira que tomba ilegalmente na mata. Esconde a periferia beradera nos barrancos do Rio Madeira. Cortamos pela estrada. Curva a direita pra fugir da BR esburacada e ganhar atalho em direção a Machadinho D'Oeste. Placas indicam Cujubim. Terra, o 4x4 sacoleja. No caminho, toreros, caminhões sem placa carregando arvores enormes. Olhamos e somos olhados. Mata e pasto na paisagem. Horas depois, fumaça saindo de chaminés grossas, Cujubim, que se apresenta como ponto vistoso e forte no mapa oficial do Estado de Rondônia. É nada, literalmente. Duas serrarias imensas, esparramadas pela estrada, uma na frente da outra. Um bêbado. Uma caminhonete importada com vidros fumê e placas de Curitiba, cidade concentradora de indústrias madeireiras.

Encontro com seringueiros. Conversa flui. Estão cercados. Madeireiros por todos os lados. Entram, cortam, tiram, invadem, barbarizam. Se negar, matam. Relato emocionado de Terezinha sobre a morte de Batista, líder comunitário. Ceifado em casa. Na esquina me dizem sobre os dois assassinados nos seus lotes. Picados e jogados em buraco de tatu, fogo ateado no barraco. Seu Pedro sentencia "vida a gente não compra no mercado". O movimento social se enfraquece, a luta é desigual. Há tendência a coadunar, não se vê saída. O jogo é de peixe grande. Executivo e legislativo local com interesse financeiro na situação. O Ministério do Meio Ambiente já foi informado, Marina Silva esteve por lá em reunião com ambientalistas. Nada fez, nada muda. Tudo segue. "É a vez de Rondônia", o slogan do governador.

Garimpeiros chegam do esvaziado bolsão de Serra Pelada. Te abordam na rua, apresentam currículo, bons no garimpo de terra e de água, manejadores de moto serra. No restaurante Robson agradece a seus anjos da guarda por lhe levarem a Rondônia. Tá na luta, amanhã vai buscar lugar pra morar. Na partida reparo que meus adornos de dedo feitos de tucumã se perderam no caminho. É para entregar os anéis? Penso. Mas olho Ana e Robson e Juan e Mareto e um punhado de outros. E Luiz, meu parceiro, enuncia perfeito à beira dum café no aeroporto: me emociono com gente assim. De volta pra selva cinza paulista.


Esse ano continuo com o trabalho por lá. A coisa tá quente. Rondônia vai gerar muitos posts, com certeza.

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