Se o Love Story é a Casa de Todas as Casas, o
Café Ekoa é a casa de todas as ongs. Quer encontrar alguém que trabalha com terceiro setor, sustentabilidade, aprendizagem e afins é só passar lá. O lugar é bacana e foi escolhido para o primeiro encontro do Movimento Marina Silva Presidente. E eu estava lá.
Sentado e olhando para a roda de 15 ou 20 pessoas que ali se reuniam eu me lembrei de uma cerveja bem gelada que tomei em Silves, uma ilha do Rio Amazonas, com Ana Euler (a mulher que mais entende de Amazônia que eu conheço), um engenheiro florestal e dois lideres comunitários. Como qualquer boa cerveja a conversa navegou por muitos lugares. O início foi sobre a insanidade minha e de Ana de ter nadado na Ilha dos Pássaros naquela tarde, rodeados por um boto, lugar que era, na ótica do nativo, um criatório de piranhas. Mas estávamos bem vivos e o assunto alcançou logo Marina Silva. E foi incrível o que se produziu, o apoio que ela ganhou ali naquele boteco. Depois das declarações de "te considero pra caramba", coisa que muito se faz com a sensibilidade marcada pelo álcool, marchamos embora batendo no peito e prometendo eleger Marina a nossa presidenta.
Os amigos que eu tanto considerava naquela noite confesso que nunca mais vi. Nem telefonei ou mandei email. Mas o trato de eleger Marina seguiu forte. E ontem eu me encontrava ali, nos primeiros passos desta história.Tomava agora um açaí na tijela. Nada de cerveja ou derivados. E fazia cara de sério.
Ali estava gente de ONGs (opa, me encaixei nessa categoria que eu odeio porque é dum reducionismo absoluto....), ambientalistas, gestores públicos, militantes da cultura, advogados, cientistas e outros. O Eduardo Rombauer, criador do Movimento, contou de como tudo começou, das confusões geradas no início quando Marina ainda era ministra e essa idéia lhe criava saia justa e de como esse impulso ganhou força, tomou rumo independente do gosto da senadora e foi capaz de atrair o interesse do PV. E por aí se seguiu.
Duas marcas surgiram na fala de Edu: se quer buscar um novo jeito de fazer política e esse processo deve ser pedagógico. Os participantes do encontro lançaram então sugestões do que poderia ser feito e como cada um poderia ajudar. Um pouco de tudo. Eu logo me preocupei. Fiquei reticente em colocar minha ponderação porque tinha dúvidas se eu não entendia nada de "uma nova estrutura de política", com ações descentralizadas, células, independência de núcleos entre outros - e é claro que a campanha do Obama foi mencionada uma infinidade de vezes - ou se minha preocupação era de fato pertinente. Mas levantei a mão e logo disse que acho tudo muito bonito e legal, mas creio que assim é difícil sustentar o movimento. A questão esta relacionada à produção de conteúdo: afinal o que vai ser dito em um passeio no parque, uma volta de bicicleta, uma ação qualquer? Se deixar aberto lindo leve e solto as falas se tornam individuais e não institucionais ou programáticas. Apoio novas idéias, claro, mas pela minha experiência com ongs as palavras bonitas são belas armadilhas. Ou seja, o que significa "um novo jeito de fazer política?" ou um "movimento pedagógico?". Se isso não for recheado de um conteúdo articulado e consistente vai se dissolver no ar. E me calei.
Um pouco de tudo nos comentários que repercutiram minha preocupação. Um pouco de sim, sem dúvida, é algo importante a ser tratado. Mas também uma fala saudável de evitar que isso imobilize todo o movimento. Nem tanto ao céu e nem tanto à terra. Um lugar outro que ainda não sabemos qual é, mas que se quer ir atrás.
Nesta conversa apareceram as instituições que compõe o complexo tabuleiro onde se armará a corrida de Marina para a presidência. Há o movimento, que busca mobilizar a articular interessados, o PV, que dá base institucional, a Campanha, que gerencia a campanha em si e um Instituto, de nome que me escapa mas que tem - claro - sustentabilidade em seu título e é gestado junto às lideranças do ISA (Instituto Socio Ambiental) e que terá o papel de definição do programa. Muitas variáveis. Perguntei se temos risco de crise de identidade no movimento no meio de tanta gente. Juraram que não, que isso esta bem demarcado. Confesso que ainda preciso entender essa arquitetura.
Mas o encontro precisava acabar porque o Café Ekoa tinha limite de horário. Nossa bela e sorridente anfitriã, Maria Barreto do
CoCriar, fez uma sintese das idéias apresentadas, cada um pode se filiar a uma ou outra proposta, a boa lista de emails circulou, alguns compraranm camisetas, eu fiqeui só com alguns adesivos e se falou de em breve termos novo encontro.
E assim seguimos. Quem quiser saber mais pode se inscrever no movimento na Internet (
http://www.movimentomarinasilva.org.br/), seguir o movimento no twitter (@acaradobrasil), ou seguir este humilde que lhes escreve.