Cid. Guatemala.
Foi difícil. O chão de tacos de madeira. O mundo envolvido em mansidão. Era só subir as escadas. Toc Toc. A luz que batia na cama tinha a idade de minha avó. E ficava ali, tranquila, no tempo dela. A casa da Sra. Pilar, sem conforto de hotel, eu acho que não existe. Foi uma estadia imaginária, num lugar que fantasiei na Guatemala. Por isso tive que ir embora, pra sofrer na hora de sair, me arrepender na esquina, levado pela racionalidade moderna dos que aqui me acolhem. Lá era pra se ficar só alguns instantes, pra guardar como fragmento, interstício de coisa rara, dessas que tem que se viver pouco pra que sejam grandes. Demorei a sair, sentei na sala, alonguei minha desculpa mentirosa que me tirava dali.
Carregava o mesmo sentimento que tive ontem, domingo, na cozinha de Frida Kahlo, na Casa Azul. Aquela em que viveu com Diego Rivera e onde está montada uma exposição belíssima, de engolir o choro. A cozinha com mesa e cadeiras coloridas, fogão a lenha enorme, azulejos. Cheia de abraços pra quem nela entra. Fiquei horas ali nos poucos minutos em que a desfrutei. A cozinha de Frida e o mundo da Sra. Pilar. Acho que estou entre fantasmas, mas daqueles bonitos como os que habitam o mundo de Pedro Páramo.
Que pena que fugi pra terra dos vivos, que me queriam em um hotel adequado, perto de tudo, cheio de botões e pirotecnias. Abri mão das inutilidades mais importantes que existem pra me cercar de eficiências.
Perdi minha poesia nessa tarde. Deixei ela lá, parada na sala, no ritmo da casa da Sra. Pilar.
18.2.08
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
E Ai Brandón! Que tal?!
Estranho demais. Fiquei encantada com aquela figura mexicana! Como se tivesse vendo uma lasca das minhas raízes. Que raio de povo é esse latinoamericano escondido debaixo de novas civilizações européias? O que esses símbolos conseguem revelar do que está no inconsciente deste continente?
Enfim, das raízes dos antepassados espero que consiga se virar com o convívio con las cucarachas. Són hermanas!!!
Não sei bem quando vai para Nicarágua. Um amigo meu que esteve lá agora falou que é o povo mais politizado que já conheceu.
Tente prestar atenção no que ouvir falar da renúncia fatídica de hoje; saída del comandante. Fico muito curiosa pra saber o que o povo acha de Cuba, Fidel e tudo mais.
Se de orelhada ouvir falar de como funcionam as medidas sócio-educativas por essas bandas...hehe... estou tentando te fazer de correspondente oficial... Mas pode ser lagal depois para relatar em Rondônia.
Adorei o prefácio do livro. Sensível e pontual.
Bom fim de viagem.
Renata
Por que nao:)
Postar um comentário